25.10.09

Leiam que é bem interessante!

Como era bom chorar (por Danuza Leão para a revista Cláudia)

Há quanto tempo você não chora um choro daqueles bem bons? Alguns anos, e não por falta de razões. Houve uma época em que se ia ao cinema e bastava aparecer uma criança castigada pelo destino e nossos olhos se enchiam de lágrimas. E se chorava também quando o final do filme era feliz, quando era infeliz; e se ia para o banheiro aos prantos quando na festa o homem que a gente achava que amava dançava com outra. Aliás, há quanto tempo você não chora nem por alguma injustiça ou maldade que fizeram com você? Ou vai dizer que a vida só faz te tratar bem?


Aprendemos a “segurar” quando levamos uma rasteira, sofremos a deslealdade de um amigo ou a traição do namorado, fingindo que a vida é assim mesmo, para dar uma de forte. Depois dos 35, não se chora nem quando se quebra a perna. Aprendemos a conter nossas emoções. Como os homens não choram, nós, mulheres, resolvemos nos igualar a eles, ficando tão duras quanto achamos que um homem deve ser – e alguns nem são.


Houve um tempo em que bastava que as mulheres chorassem para conseguir o que queriam – ah, bons tempos aqueles... Hoje, se uma mulher deixar transparecer alguma dor, mesmo que ele esteja fazendo as malas para deixá-la, o mínimo que vai acontecer é ficar falando sozinha. Homens costumam ter pavor a mulheres que se comportam como mulheres, a não ser naquela hora – aquela. Ou você nunca ouviu a frase “Ah, não vai agora dar uma de apaixonada”? Que vida!

O que um homem espera de uma mulher? Que ela seja quase como um homem, que entenda de economia, de política internacional, que se transforme em surfista, tenista ou golfista – segundo as inclinações dele, claro –, que tenha opinião sobre a seleção, seja independente financeiramente, e tão bonita quanto Fanny Ardant, tão feminina quanto Jacqueline Bisset, tão boa mãe quanto foi a dele, mas que na hora certa vire uma louca desvairada de desejo – por ele, claro. Simples, não?


Eles não sabem o que estão perdendo. Se tivessem um pouquinho mais de sabedoria, perceberiam que não há nada melhor do que um bom aconchego durante e depois de uma crise de choro. É preciso que as mulheres às vezes chorem, ou nunca poderão deitar a cabeça num ombro masculino, que é tão bom. Se ninguém mostra suas fraquezas, nenhuma relação pode existir, seja ela de amizade ou de amor – paixão é outra coisa. E as mulheres às vezes precisam de quem as console, só que os homens não sabem, já que elas não choram mais... 


Hoje eu chorei. Minha mãe me ensinou que se deve respeitar os mais velhos e eu aprendi. E muitas pessoas mais velhas se aproveitam disso para falarem o que bem entendem, e saem ofendendo quem eles querem em público, e mais por diversão mesmo e também para se mostrarem superiores a sei lá o quê. Como eu respeito, eu tive que ouvir muitas coisas ruins a meu ver CALADA, e engolir a seco o choro e raiva na hora da dor porque eu aprendi a maldita lição de respeitar os mais velhos. E sabe o que dói também? É que mesmo com toda essa falta de respeito comigo eu ainda trato a pessoa com a maior educação do mundo, porque eu gostaria de ser tratada da mesma maneira por ela, e isso nem sempre ocorre. Estou guardando até onde eu consigo, mas uma hora eu posso explodir. E esse é o meu medo. E com o texto que coloquei acima eu queria deixar um recado aos homens que lêem meu blog para que compreendam e saibam respeitar a dor das mulheres que como eu choram esteja aonde estiverem quando algo dói. Saibam ouvir, saibam apoiar, porque essa coisa de chorar por qualquer tolice entre adultos não existe. Pensem nisso.

Cat Power - I Found a Reason (porque ela me acalma sempre)

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu fiquei um tempo sem chorar... um bom tempo anestesiando todas as dores!
Mas de uns meses pra cá tenho chorado por tudo que me cause emoção, e assim tudo é posto pra fora... A gente tenta se manipular o tempo todo, mesmo que inconscientemente... e engolir o choro e ouvir o que não se quer por ter sido educada pra ser assim, nos causa aquele nó na garganta que não desata até que possamos jogar aquilo tudo pra fora... nem que seja contar pras pessoas proximas...
Só entende quem ainda consegue chorar...

bjo