
Como sou uma pessoa nostálgica (canceriana de tudo), queria muito que o mIRC voltasse. Alguém lembra que o mIRC existiu? E ainda, o quanto ele era legal? Através do mIRC eu fiz amigos e posso até arriscar citar que alguns dos melhores amigos que eu tenho/tive foram "achados" por intermédio dessa maravilhosa ferramenta. Por mIRC eu quase não saía de casa e quase não comia ou dormia, o que causava uma certa preocupação em minha mãe. E quando eu saía, era para ir aos ircontros que a gente nem gostava de intitular dessa maneira porque os canais dos quais eu fazia parte nem eram frequentados por pessoas do tipo "povão".
E por lá arrumava altas encrencas com as patricinhas de canais como #InTeRaTiViDaDe ou #Gyn, ou sei lá o quê, já que o canal do qual eu era uma das donas chamava-se #PuNkZiNhAs - sim, escritos dessa maneira. Participava do #riotgrrls e detestava as #bi_cjf (das quais hoje não tenho nada contra e até sou amiga de uma delas). Numa dessas confusões com as patricinhas até já corri da polícia - juízo, cadê? E por fim participava do #alternative, que foi um dos canais mais importantes pra mim por ter feitos ótimos amigos lá. Adorava aquelas cores todas, cada um com a sua preferência que fazia aquela bagunça nos canais, adorava os aliases coloridos e imbecis que tinham no script ou que nós mesmos criávamos. Ah, e não poderia deixar de revelar meu nick que era Docinha_superpoderosa - podem rir, eu não ligo - e que muita gente ainda me conhece ou me chama por esse apelido.
Tinha total status quem era @operador dos canais, e é claro que é importante lembrar dos lags. Ah, malditos lags! Quase tinha um faniquito quando aquele contador na parte superior do script começava a subir freneticamente, como se aquilo fosse fazer o computador explodir. Meu script era o Full Throtle, e creio que era o mais usado pelos IRCólatras. Eu era dona de um canal chamado #da_galaxia e lá eu fazia tipo uma bolha onde eu convidava somente aqueles amigos (integrantes de uma banda imaginária que a gente tinha chamada Mingau de abóbora e Pijamas Novos) que eu mais amava teclar. Através desse canal #da_galáxia arrumei até um namorado com quem fiquei anos, que hoje ainda bem ou não, faz parte do meu passado.
É uma pena o mirc ter acabado porque eu detesto o MSN assim como não gostava do ICQ por achar ambos muito individualistas. Mudando o "rumo da conversa", é para o individualismo que a humanidade caminha, nénão? Se observarem, o mundo está se esquecendo da palavra coletividade esquecendo então o significado dela e pior, de colocá-la em prática. Antes nós víamos milhares de pessoas brigando por uma ou várias causas para o benefício comum. E hoje, existe isso? Hoje as pessoas mal se preocupam em defender ou respeitar seus familiares e a tendência, meus caros, é piorar. Atualmente muitos não preocupam nem consigo mesmos, mas daí eu entraria em outro tema que pretendo abordar em algum outro dia, porque eu como membro dessa sociedade cada dia mais individualista, não tenho muito desse senso de coletividade também.
Mas eu ainda tenho coração, o que significa que eu me preocupo sim com esse buraco em que a sociedade está se enfiando tão depressa. E? Whatever, sozinha poderia fazer o quê, né?! Então.
Sem querer prolongar o post ainda mais mas já prolongando, eu li um texto copiado desse blog que fez com que meu olho enchesse d'água porque eu super me identifiquei com muito do que foi relembrado. Colocarei aqui embaixo para quem se interessar em lê-lo e se tiver algum erro ortográfico, esses são de total responsabilidade do autor.
Internet discada, ICQ, mIRC e outros adventos
90% das músicas que sei de cor são de 5 anos pra trás. Estaria eu perdendo minha capacidade de memorizar as coisas? Pode ser que sim, mas nem tanto. Esse tempo coincide com a chegada da internet banda larga em minha casa. Andei pensando: éramos mais felizes quando não havia banda larga.
No início de tudo, 3 ou 4 pessoas na sala de aula tinham computador em casa. Lembro muito bem quando chegou um “486″ em casa, com Windows 95 (meu deus, tinha papel de parede e tudo). Que beleza. Não precisava mais ir até o escritório do meu pai pra mendigar um tempinho pra jogar Jill, Wacky e Doom. Na época, era um dos melhores computadores da cidade (disse o meu vendedor).
Quando nem internet eu tinha – isso em 1998, acho – eu ia pra casa de alguns amigos (sempre fui interesseiro, só tinha amigos que tinham Super Nintendo, posteriormente, PlayStation, ou que tinham computador e, posteriormente, Internet. Me processem) o ápice da descontração era entrar no chat UOL, entrar com o nick D@nilo na sala de 12 a 17 anos e mandar ver. Era 2 horas pra abrir a página (não que minha internet a rádio se diferencie muito disso, mas enfim) e mais uns 5 minutos até digitar um “Oi e quer tc?”. Mas alguma coisa acontecia no meu coração. Aquela soma de gastar telefone (pulso)+casa dos outros+tempo escasso era incrível. Quem não passou por isso, perdeu uma bela parte da Internet. Eu até fazia trabalho só com quem tinha Internet, arrumava um pretexto pra conectar e pesquisar algo no Cadê. E parava no Chat Uol. Era batata.
Mas nem era isso que eu queria dizer. Queria me referir a quando realmente chegou a tal da Internet até minha casa. Assínávamos internet ILIMITADA (até então havia planos de limites, por exemplo: por 50 horas mensais, o provedor custava R$25,00/mês. Ilimitado, subia pra R$35,00). Um luxo só. Assinamos um dos dois provedores que haviam na cidade, porque ouvi falar que aquele caía menos.
Conectávamos, geralmente, no clássico horário: dias de semana após 0h e no fim de semana após sábado 14h. Claro que dávamos umas boas fugidas durante outros horários, o que aumentava bastante a conta telefônica, com a qual nos defendíamos sempre com o argumento de que mesmo gastando só um pulso, muitas vezes a conexão caía e tínhamos que reconectar. Mentira. Não que não caísse. Alías, caía muito. Mas nem seria o suficiente pra subir uma conta de R$60,00 para R$100,00 em um mês. Fizemos e-mail bol e tudo. O meu era dan-mail@bol.com.br
Sexta-feira, por não haver aula cedo no sábado, quando dava 22h, o coração já acelerava. Mal via a hora de entrar no ICQ e me enturmar com a galerinha antenada da minha sala. Fora que eu podia dar um search por “sexo feminino em Caldas Novas online no ICQ” e ir garimpando minhas pérolas. Dava 1 da manhã mas não dava meia noite. Até que chegava a hora. Aquele barulho de discagem (que posteriormente aprendi a abaixar o volume para ninguém me ouvir conectando em horas inapropriadas) soava como um anjo tocando harpa enquanto você entrava no céu.
Conectado. Um ícone no canto da tela indicava isso e me remete a grandes emoções. Praticamente eu esquecia o que tanto queria ver e ficava lembrando durante o dia inteiro. Nem sabia o que fazer com tantos caminhos. Entrava no Bol: mensagem nova, coração acelerado. Humortadela: meu deus, como eu ria do Humortadela [/vergonha]. Sites hacker: Normalmente com seções “humor”, “dicas hacker”, “como invadir um babaca”, “lammer”, “programas (Winzip, Icq, programas pra abrir o drive de cd alheio) úteis” e até uma página que mostrava o seu HD e dizia: “cuidado, eu sei tudo que passa no seu computador MUA HA HA HA!”. Sim, eu morria de medo. Entrem na justiça contra mim. Vocês também teriam medo.
O ICQ. Como o ICQ era legal. A cada letra que você digitava, soava um barulho de máquina de escrever, o que te deixava cada vez mais viciado em digitar, só pra ficar em rápido e ter o prazer de sentir cada batida da máquina. Quando qualquer mensagem chegava, era um som tipo “Oh Ou…”. Nessa época, a turma dos favorecidos digitais já ia pra umas 10 pessoas, entre 45. Ficávamos mais amigos, e adorávamos criar piadas internas pra contar na frente dos trouxas que não tinham computador. Uma ostentação só pra quem podia, claro.
Chegaram as tais gravadoras de CD. “Nossa, agora dá pra juntar em um cd só as músicas que você quer!”. Não acreditei. E tive que engolir isso. Meu colega comprou uma, por mais ou menos R$400,00. Gravava em 4X. Lindo. Ele deve ter lucrado um bom dinheiro, pois todo mundo pagava R$15,00, R$20,00 pra ter um cd chamado “Seleção Fulano”. Faziam-se as listas com as músicas, o sujeito entrava no Napster e, depois de 15 dias, se ele fosse esperto, entregava o cd pra você. Aquilo parecia coisa de outro mundo, e talvez fosse. Quem tinha 1000 músicas no computador era considerado um Deus.
O ICQ foi dando espaço ao IRC. Um progama sem quaisquer inovações visuais (pelo contrário), difícil de se entender, cheio de comandos difíceis de se aprenderem. Mas era um pitel. Pelo Scoop Script, ou pelo AvAlAnChE você acessava canais. Eu vivia no #uberlandia, #engenheiros, #anormais e no #caldas (no seu record, deu 350 pessoas ao mesmo tempo). Você tinha cargo de operador (tipo um dono de comunidade), de voice (moderador) e usuários comuns (se fode aí, trouxa). Você registrava um nick pra ninguém poder usar, e se deleitava pra conversar no meio de chats simultâneos, ou privativos. Tinham jogos, canais só para downloads. Praticamente um prévia do que o Orkut, 7 anos após auge do mIRC.
De lá pra cá, surgiram MSN, Orkut e MySpace, dentre outras ferramentas. A Internet agora, se antes dividia o espaço com outras coisas que você fazia no computador, agora não mais possibilita isso. Quem consegue ligar o computador para digitar um texto, jogar alguma coisa, ler algo em algum site, sem abrir o MSN, mesmo que seja “só pra ver quem tá online”? Quem, durante esse texto, não foi ver se seu orkut tem alguma novidade?
Posso afirmar que a Internet perdeu o seu glamour inicial. E acontece com todas as coisas: quanto menos limitada, quanto mais democrática, menos glamour tem. Na comunidade Discografias há a incrível possibilidade de se acharem álbuns completos de quase todos os artistas dem quem já tive notícia no mundo. Em 10 minutos se baixa até mais de um álbum. Não dá tempo de escutá-lo pois, na metade, já chegou outro. Pra quê vou assistir um episódio do meu seriado favorito por semana, se posso baixar e assistir tudo de uma vez no computador?
Jogamos, lemos, passeamos, muito menos que antes. Pode até parecer um saudosismo idiota, mas ouvíamos muito mais músicas com muito mais atenção quando demorávamos uma semana pra baixar a coletânea preferida, do que hoje. Era muito mais divertido receber carta de um amigo distante do que vê-lo diariamente no MSN e raramente falar com ele, por uma suposta falta de assunto.
Claro que toda melhora tecnológica e de acessibilidade é bem-vinda. Mas, como qualquer outra coisa, isso traz também a tentação de cairmos numa suposta diversão eterna, que posteriormente vai virar mesmice. É a tal da democratização do acesso sem que antes tenha havido uma conscientização sobre o bom uso da coisa. Você pode pensar: “mas eu fiz muitos amigos pelo Orkut e MSN”. Sim, mas talvez isso tenha te deixado mais exigente (talvez enjoado) ou utópico em relação a amizades do mundo “real”, que podia ter feito ao praticar um esporte ou saindo com outras pessoas.
Estou pensando seriamente em colocar de volta uma conexão discada aqui. Mesmo que isso soe como um discurso de adulto que não entende nada disso (que assiste Jornal Hoje e fica preocupado com o filho porque “há denúncias de pedofilia em sites de relacionamentos como Orkut” – haha – mas quem sabe estamos precisando de um meio-termo nisso aí. Quem sabe seja a hora de nós começarmos a impor nossos próprios limites.
E fico por aqui porque tenho que olhar meu Orkut.
=õ)
P.s: essa banda citada acima grudou na minha playlist. fica a dica.
2 comentários:
Puxa, que saudoso, que tempo bom. Eu tenho muita saudade do mIRC. Eu sempre digo que nunca consigo conversar tanto no MSN ou ficar tanto na internet quanto ficava no mIRC. Aquelas horas de madrugada que ficávamos esperando incontavelmente chegar (especialmente por conta da meia-noite e internet discada).
Gostava da hierarquia dos canais, onde "mendigávamos" por @("Me dê @ no seu coração", lembra?), dos canais que criávamos. E os amigos que fiz. Puxa, muitos dos melhores que tenho até hoje. Você mesma é uma dessas pessoas.
O ICQ também era muito bom. Você podia colocar um "estado" para cada pessoa, fazer chats entre várias pessoas e programa nunca ficava pesado, fazer essas procuras que você falou...
Enfim, tempo bom mesmo! Porquê eu tb sou bem saudosista
Outro comentário: Okkervil River é muito bom, não? =)
Vou aproveitar a deixa para te sugerir outra banda ótima: Band of Horses! ;)
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