Como TODAS as pessoas que me conhecem sabem, eu tenho uma t.p.m. incomensurável. Não tem explicação tamanha força. Mas só por esses tempos depois que eu percebi que meu cérebro desenvolveu totalmente (ou não), é que eu comecei a reparar a época certinha em que minha t.p.m. começa, ou seja, essa irritação não dura toda a vida, como eu antes pensava. Minha professora de psicologia sempre falava de um tal desenvolvimento cognitivo no qual eu não acreditava muito, já que na época eu era bem nova, e por acaso não tinha chegado ao ápice do desenvolvimento do meu cérebro (que pela ciência se chega aos 21 ou 22 anos e como ainda assim é muito relativo, não sei exatamente se o meu está totalmente desenvolvido).
Daí que hoje, aos 25, eu entendo perfeitamente esse processo, sei que ele é verdadeiro e como funciona. Aliás, essa é uma das poucas coisas que se sabe sobre o cérebro humano; Que ele desenvolve de acordo com o tempo. Hoje eu lembro e sei analisar como minha cabeça era na infância, depois na adolescência, na transição da adolescência para a fase adulta, e finalmente na fase adulta. Como muda a percepção das coisas, como muda até a forma de ver e de avaliar toda imagem e informação que chega ao cérebro.
Enfim, não é bem sobre isso que eu quero abordar aqui. Escrevi tanto somente para explicar que a t.p.m., apesar de ser a época mais sofrida do mês para mim e para quem me cerca, tem uma única vantagem: eu sinto vontade de escrever mais que o normal. E a vontade de escrever veio de um questionamento que ficou martelando a semana toda na minha cabeça: por que as pessoas tem o hábito de me chamar de doida?
Aí me ocorreu o seguinte: se eu falo que eu gosto de ler, escrever, que eu gosto de filosofia, astronomia, astrologia, cultura, música alternativa, que eu sou uma pessoa que não gosta do que todo mundo gosta, que eu tento ao máximo ser ecologicamente correta, que eu questiono tudo que me dizem, que eu digo o que eu penso sem escolher momento pra isso, que eu não concordo com tudo só para fazer uma social, porque eu odeio modinha, eu sou uma pessoa louca, rebelde, do-contra, anormal? Ser normal então, é inserir-se no mesmo quadradinho apertado em que está todo o resto da população/sociedade, para só assim ser aceita como tal?
Para as pessoas (não generalizando), normal é curtir um sertanejo, um axé, um pagodinho num fim de tarde de domingo, ir a todas as micaretas e raves anuais possíveis, ser no mínimo o famoso eclético, pegar geral nas baladas, fazer uma faculdade de direito ou administração ou qualquer outra coisa para assim posar de inteligente e passar num concurso, e morar pra sempre com a mamãe, ou senão pra sempre, até que se case? E gostar de leitura, imagina, é algo totalmente anormal para essas pessoas, ler só se for revista de fofoca para ter um assunto, ou a bíblia, livro em que eu, de tão "anormal" que sou, não consigo acreditar. Ah, e sem deixar de mencionar as idas às missas nas manhãs de domingo para pedir perdão à Deus por todas as merdas que fez na semana, para na semana seguinte continuá-las fazendo com a consciência limpa, porque seus pais, que tem o mesmo comportamento hipócrita, ensinaram que resolve. Minha anormalidade também não me permite acreditar no santo (oi?) poder da igreja. Mals ae.
Okay, eu tenho um senso-crítico um pouco exagerado, o que me ferra em muitas situações. Mas eu não acho que as pessoas que fazem tudo isso que eu citei acima são as normais. E aí? Quem tá certo? E olha, se para ser aceita em todas as baladas vips, se for para ter os amigos mais hypes da cidade, eu tiver que me tornar um ser comum como esses que estão esparramados por esse mundo, eu prefiro voltar para o meu planeta. E na falta dessa opção, então eu prefiro continuar a ser uma outsider, e viver na solidão mesmo, se um dia for preciso. Na boa.
Tem um trecho do livro Como Me Tornei Estúpido, do autor Martin Page, que descreve mais ou menos o que sinto em relação a ser considerada "anormal" pelos que se julgam "normais":
"(...)Tinha poucos amigos, porque padecia dessa espécie de anti-sociabilidade que resulta da demasiada tolerância e compreensão. Os seus gostos não-exclusivos, disparatados, baniam-no dos grupos que se constituíam a partir de desgostos comuns. Se ele desconfiava da anatomia odiosa das multidões, era sobretudo a sua curiosidade e paixão desprezadoras de todas as fronteiras e clãs que faziam dele um apátrida no seu próprio país. Em um mundo em que a opinião pública está confinada nas pesquisas às possibilidades sim, não e sem opinião, Antoine não queria preencher nenhum quadradinho. Ser a favor ou contra era para ele uma insuportável limitação às questões complexas. Além disso, possuía uma delicada timidez à qual se aferrava como a uma reminiscência infantil. Parecia-lhe que um ser humano era tão vasto e tão rico que não poderia haver maior vaidade neste mundo que estar demasiado seguro de si com respeito aos outros, com respeito ao desconhecido e às incertezas que cada um representava. Por um momento teve medo de perder a sua singela timidez e juntar-se ao bando dos que nos desprezam se não os dominamos; mas, graças a uma vontade obstinada, soube conservá-la como um oásis da sua personalidade. Apesar de ter recebido numerosos e profundos ferimentos, isso em nada lhe tinha enrijecido o caráter; ele guardava intacta a sua extrema sensibilidade, que, como uma fênix, renascia mais pura que nunca cada vez que era maltratada e morta. Enfim, se acreditava razoavelmente em si mesmo, esforçava-se por não acreditar demasiadamente, por não concordar facilmente com o que ele próprio pensava, pois sabia como as palavras do nosso espírito gostam de nos prestar serviço e nos reconfortar logrando-nos."
Pronto, e por hoje é só.
radiohead - nude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário